sexta-feira, dezembro 29, 2017

A POESIA DE ADMMAURO GOMMES


TEORIA DA POESIA ABSOLUTA

A partir do momento em que eu passei a compreender que a poesia é essência, o poema representa apenas uma tentativa de concretizá-la. Foi assim que mudei meu ponto de vista no que tange è estética literária. A metáfora nucleia o poema, e isso é fundamental para o entendimento do que seja poesia e o texto poético. [...] Tambpem não se pode deixar de reconhcer que a poesia pode estar em todas as coisas. No cotidiano, a encontramos de maneira escrita até nos para-choques de caminhão, nos ditos populares, e não é algo exclusivo dos poetas, porquanto um escritor diferenciado se preocupa em concentrar um número maior de figuras e imagens em um único texto. Quando isso acontece pela primeira vez, é algo extraordinário. [...]. A nossa intenção é registrar essa preocupação como fuga à inércia criativa. Para isso, não nos conformemos em apenas historiar, como por um retrovisor, lendo o passado. [...] Para finalizar, sem concluir, vale ressaltar que embora todas as artes estejam acessíveis à inteligência humana, não é verdade que todos possam desenvolver habilidades naturais para ser um artista. Conhecer os mecanismos utilizados por um grande autor não faz com que alguém se torne mestre em produção literária. Quando muito, vai compreender o mundo criativo de determinados gênios de um idioma, embora se prove que quem tem mais conhecimento em uma área pode desenvolver suas potencialidades. [...] mesmo sendo vaga, minha esperança é que esta obra contribua para o interminável debate sobre a idealização do poema e sua construção estilística. Acredito, ainda, que tenha dito tudo que queria e podia a respeito do tema, após uma vivencia em torno do literário que ultrapassa quatro décadas de exercício-linguistico. [...] Enfim, chego à conclusão de que a poesia pertence ao campo semântico do indizível, do sublime e do sensitivo.
In: Teoria da poesia absoluta (Autor, 2017).


A CASCA DO GRITO

Os lábios d’água
Se abriram em flor
Era primavera
Quando amoleci
O sólido silêncio.
Corri ao encontro da dúvida
E provei amoras
Amores amaros
Como as cores frias
Como lilases de prata nostálgica.
Mas eternizei os minutos
Feitos de mármore e granito
Seivas e soluços e quebrei
A flácida casca do grito.
In: O futuro da poesia (Inovação, 2017).


PORTO

Já fui porto tantas vezes
Vezes tantas eu fui mar
Atracaram aos meus pés
Muitos barcos sem destino
Que meus sonhos de menino
Morreram por tanto mar.
De refúgio
De caverna
Já servi a tanta gente
Já beijeito pedra por lábios
E lábios por alimento.
Já ui homem, quase deus
Já fui tudo, quase nada
Que a minha adolescência
Perdeu-se pela estrada
Só hoje eu percebi
Que quanto mais eu fugia
Pra longe deste poeta
O verso que não é meu
Prendia-me  à vida inteira
Ao porto chamado mundo
Ao mundo chamado eu.
In: Fernando Pessoa e o mar (Autor, 2015)


SABORES DO BRASIL

Em terra brasileira
Tem a laranjeira
Tem a goiabeira
Tem a bananeira
Tem a jaqueira
E mais outras mil
Elas representam
Os sabores do Brasil.
In: Sabores do Brasil (Burarema, 2010)


O SER INDECIFRÁVEL

O que devo fazer contigo, poeta
Se tu’alma está cheia de constelações
Signos e pensamentos lúdicos
Narcisismos, esfingismos...
...ismos, ecos indecifráveis.
Como posso te aceitar
Se não aceitam meus limites
As tuas mãos indeléveis?
Não podes voltar ao pó
Só homens voltam ao nada,
Tu segues à eternidade.
Já que não posso deixar-te
Ao menos, poeta, deixa
Saber por onde tu andas.

O POETA

O poeta é pai do filósofo
E avô do versejador
É mais que feitor de rima
O versejador declina
Quando falta filosofia
E esta é coisa vã
Quando falta poesia.
Repetir-se em poesia
Sem o equilíbrio estético
É chegar ao máximo grau do patético.
Ser poeta é bem mais
É vasculhar o infinito
E na mudez do silêncio
Plantar seu grito.
In: Para nunca mais dizer adeus (Bagaço,  2006)


SER POETA

Ser poeta é ter o pressentimento
Que as coisas podem mudar
Que um dia vai melhorar
Quem sabe, a qualquer momento.
É viver seu invento
Como quem inventa cores
Como quem vive de amores
E tem a alma repleta
Transforma dores em flores
Isso sim, é seu poeta.
In: Para nunca mais dizer adeus (Bagaço,  2006)


NO MEIO DA PEDRA

No meio da pedra havia um caminho
Havia um caminho no meio da pedra
Nunca me esqueci deste acontecimento.
Entontrei, pois uma luta tão fatigada
O que o poeta maior não percebeu:
No meio da pedra uma abertura.
Uma abertura que dá para luz
Que irradia toda uma estrada
Transcende a alma, remove a pedra.
E para meu deslumbramento
A essência do que eu achei não era
Só o caminho, mas a Verdade e a Vida.
In: Poemas do manancial de luz (Bagaço, 2002)


DANTE E EU

Mestre
És
Tu
Dante.
In: Pelos sete mares (Bagaço, 2001)


TOTALITÁRIO

O regime totalitário
Rege-me pelo contrário:
Não pense na vida futura
Não pense em cultura
Não pense
Não pense.
In: Cinco poetas e um luar (Bubarema, 2009)


ADMMAURO GOMMES – O poeta e professor Admmauro Gomes é autor de diversas obras poéticas e organizador de obras reunindo estudos literários e sociolingüísticos, além de participar de antologias poéticas. Atua como professor de Teoria Literária e Literatura Brasileira na Faculdade de Formação de Professores da Mata Sul (FAMASUL), é especialista em Língua Portuguesa pela FAFIMA (Maceió) e já ocupou o cargo de Secretário de Educação em diversos municípios. Ele edita o blog Professor de Literatura e mantém um canal no YouTube. Veja mais aqui e aqui.