domingo, outubro 08, 2017

ENTREVISTA & ARTE DE ZÉ RIPE


LAM - Zé Ripe, como se deu seu encontro com a música?

Na verdade, na verdade, ainda criança na escola eu cantava nos aniversários das professoras, entre os 6, 7 e 10 anos, no Grupo Escolar Zé Bezerra. Depois disso em shows de calouros, que era muito comum naquela época, os festivais estudantis e as feiras de músicas idealizadas por Juareiz Correya.

LAM - Quais as influências de infância e adolescência que contribuíram por sua definição profissional?

Muita gente, meus irmão mais velhos curtiam, A Jovem Guarda, meus pais A velha Guarda, Luiz Gonzaga e seus seguidores. Meus amigos curtiam, MPB pesada, Rock progressivo. Então, eu sofri influência de: Chico Buarque a João Gilberto, Quinteto Violado a Banda de Pau e Corda e Orquestra Armorial, de Roberto Carlos a Reginaldo Rossi, de Vicente Celestino a Ataulfo Alves, de Waldick a Roberto Müller e por ai vai. Mas com a minha adolescência eu já havia feito uma triagem do que de fato me serviria para minha formação musical.


LAM - Você participou na época de colegial de uma série de eventos, como recitais, cantorias, melodramas, entre outras atividades. Conta pra gente como se deu essas experiências.

Aí, tive de certeza os dois mais importantes parceiros, que foi o Célio Cavalcante de Siqueira (Célio Carneirinho), e você, Nito Machado. Célio, o começo e você segurou a barra e apostou pesado em mim, tanto que fizemos muitas apresentações juntos, desde a quadra do colégio Diocesano até palcos além das fronteiras palmarenses.

LAM - Você teve participação ativa em Festivais, Feiras de Música, blocos carnavalescos e muitas outras. Quais as contribuições dessas participações para sua formação artísticas?

Todas! Porque foram vivenciadas com certo zelo e carinho, pois havia um cuidado com o que se cantava, e o meio artístico em que vivíamos era muito rico, e seleto, culturalmente falando, tanto na parte intelectual quanto musical. Tivemos uma boa escola. Agradeço a Deus por cada um de vocês. Desde Marcos Ripe até Gulu. E aí, vinha: Nito Machado, Fernando Melo, Ozy dos Palmares, Célio Carneirinho, Vavá, e outros.


LAM - Você já compunha músicas e apresentou diversos shows, teve músicas gravadas muito antes de gravar o seu primeiro álbum, tendo já desde então um público cativo e bem definido que acompanhava seus shows e cantava suas músicas. Fala pra gente dessas sua relação com o público..

Eu, modéstia a parte, digo que, tenho uma história que contraria o dito popular: Santo de casa não obra milagre! E aí, eu sou o milagre. Na minha Terra, eu sou rei. Hoje ainda conservam o respeito por mim, mesmo com um certo distanciamento do palco por mil razões culturais e políticas, consigo me manter dentro da aceitação popular. 

LAM - Foi em 1999 que você gravou seu primeiro álbum, Vivências? Como se deu essa realização?

Foi com a chegada de Dr. Henrique Arruda a Palmares, que se deu a oportunidade. Eu tive o prazer de conhece-lo, e ficarmos amigos ao ponto de virarmos parceiros musicais, em diversas músicas. E Vivências, era um poema dele e eu o musiquei, com certa dose de sorte, porque a musica caiu muito bem, e aí, ele resolveu grava-la. Foi um teste de fogo para mim, porque ele fazia poemas e letra de músicas numa rapidez incrível. Em uma semana fizemos o disco.


LAM - Em 2004, foi a vez de você lançar o álbum Trombetas. Fala dessa experiência.

Trombeta já foi um negocio difícil, porque Dr. Henrique, já não tinha o mesmo entusiasmo,porque, os planos políticos dele não se realizaram. Eu tive que, ir atrás de patrocínio, e ai, quem acabou fazendo grande intervenção, foi Paulo Profeta. Ele que seria apenas um dos colaboradores. Mas o disco é uma grande obra, e teve a direção do grande amigo e parceiro, Zé linaldo. 

LAM - Em 2007 você lançou Trem Azul, qual o destaque que você faz dessa empreitada?

Princípio, Trem Azul. Por sua força poética resgatadora da memória do Trem de Alagoas o Trem que, Ascenso tão bem decantou em seu poema:“Vou danado pra Catende”.Musicado e gravado por Alceu Valença. Mas, “Cilene” acabou sendo a surpresa por súbito acontecimento de sua morte. Esta canção ficou sendo por muito tempo o carro chefe.


LAM - Em 2008, foi a vez de Raízes Populares. Qual a proposta desse seu trabalho?

Raízes Populares, tinha o proposito moral de preservar a nossa cultura, diante do bombardeamento descabido da mídia capitalista e cruel, tomando todos os espaços, amordaçando tudo que é belo e em troca simplesmente do dinheiro.  e eu já previa o caos de morte,  anunciada na Saia Rodada, Avião, Forró do Muído e outras do mesmo gênero. Hoje o pouco que tem agoniza em leito de adeus.

LAM Em 2011, você aparece pro público com Zé Ripe & amigos em pé de serra. Conta pra gente como foi realizar essa festa.

Era já final de ano e eu tive essa ideia de chamar os amigos forrozeiros para fazer um forró natalino, em pleno mês de dezembro foi meio que coisa de louco. Ninguém comprava ideia, mas foi um sucesso, enchemos a Praça Paulo Paranhos.   10 mil pessoas foram ver. Santanna, eu, Zé Linaldo e mais uns dez amigos. Ficamos muito felizes porque, provamos que o forró de Luiz Gonzaga, Dominguinhos em nossas músicas cabe e o povo gosta em qualquer tempo. Já dizia Ariano: “O cachorro come o osso, porque, não lhe dão o filé!


LAM - Em 2015, deu-se o lançamento de Varal Nordestino. Fala para gente como se desenvolveu esse seu álbum.

Varal Nordestino é um projeto que não consegui mostra-lo em seu todo porque eu fui operado as pressas em pleno trabalho no mês de junho. Mas é um projeto de fusão do Maracatu, Ciranda, Forró e xote, que rende um molho dançante sem perder as características de cada um, num proposito de mostrar um novo sem banalizar a cultura. Mas vou ver ainda como tocar pra frente, uma vez que, nada ganha dessas bandas e grupos empresarias que comandam, seja o Arrocha, o Sertanejo e o forrofoleragem que sufoca toda e qualquer boa música, numa inversão de valores nunca vista. 

LAM - Você além de compositor musical, escreve suas letras e poemas. Como é fazer letras e poemas, há distinções no fazer artístico neste sentido?

Às vezes sim outras não. Há poema que por mais metafórico que seja é aceitável, assimilável ao público, outros não tanto, por não ter a intensão de ser claro. Ou esclarecedor de uma situação. Já as letras de músicas tem endereço certo. Tem uma função mais informativa, exceto quando se faz como se fazia na Ditadura Militar. A exemplo de Chico e outros que burlavam intelectualmente a censura.  É como que, letra de música quer contar uma história e o poema meio que se abstêm a isso. Como diz Belchior: Sim! Já outra viagem.


LAM - Você está concluindo o curso de Letras, esta sua formação acadêmica tem contribuído com o poeta e letrista?

Tem, demais! Pelas questões das técnicas e regras da Língua. A norma culta e a linguagem padrão e não padrão, os textos tendem a melhorar gradativamente. E ficarem mais cumpridor de suas funções. Obedecendo a Gramática ou Linguística. Mas, eu não tenho tanto problema para me adaptar.  Porque já escrevia razoavelmente bem. Isto é: poemas e letras de músicas. A prosa requer outros cuidados que aos poucos vou me adaptando. 

LAM - Quais os projetos Zé Ripe tem por perspectiva realizar?

Terminar e não parar a graduação. Fazer pós e vai. Isto, José Rodrigues, parceiro e paciente com Zé Ripe, que em mais breve tempo, quer fazer um trabalho mais intimista, mais acústico. Eu vou ver como usar melhor a internet para divulgar novos empreendimentos artísticos.

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