terça-feira, setembro 05, 2017

POEMAS DE GLEIDSTONE ANTUNES


INEXAURÍVEL EU

Pensei que era apenas um
pensei que fui o que já sou
pensei que serei o que não sei
mas serei ser o que quiser
Inexoravelmente o futuro chegará
descobrirei, então, que nada sou
Apenas sentirei profundamente
que posso pensar e entender:
os vários xis de mim mesmo
é apenas um – inexaurível eu.

REVIVIDO ID

Num riste de sobriedade laica
etilicamente acobilhado e zamifeiro
rio lágrimas de pexels em
paralelepípedos
Navego nos Alpes Andinos como
licranco
em isagoge ovular e lisarino
entorcegado.
Com quixós fui apanhado e preso
por dipsomania, fui, fui castigado e nu
ao leu dos azeites azuis.
Sangrei até morrer ávido de vida
lastimei o enterro do meu ID
Renuindo diante dos espíritos
ginjado em pelos plastificados
reneguei à morte o sal do meu viver.
Abnóxio e ressuscitado, zumbri-me
cantei as sinfonias astrais
contrariei o meu Ego
revivi meu ID.

ASSASSINATO DA PAZ

Assassinada a paz está
em esgotos cerebrais de cinza
Cabeças, troncos e membros
arrancados a dentadas nuas.
Gritos desideológicos em terror
calabouços de clorofórmio e fossa.
Facão, pau, pedra e chuncho
sangue, suor e lamentos secos
entre grades de agonia.
Matanças de hominídeos bichos
bárbaros homo sapiens, assassinos
humanas bestas-feras.

AFOITAS GOIFADAS

Os pássaros ciscam alpistes de
chocolates
mergulhados num caldeirão de cheiro
nas águas freventes de azulejos azuis
Suas azas esplendorosas de neom
sopram almas com afoitas goifadas
Em cada talha um talho
pra cada talho um sulco
Mágicas imagens num preto e branco
goifam-se num labirinto
rítmico, métrico
e de amoníaco.

INTRÉPIDO CUSPIDO

Salivariamente salivamos as babas
migalhas de amores orgásmicos
paralelepípedos flácidos, flisticos
Às asquerosidades do mundo, um
escarro
nos cogumelos venosos minários
o respaldo das estrelas decadentes.
Ao berço plácido da morte
um intrépido cuspido de repúdio.

USTÓRIO LIPSO

Abléfaro diante da vida
não consigo piscar meus lábios.
Num feticídio enzuretado
vivo em baquistárias noites
inteiradas em aterros atrozes.
Nefrítico, urino gotas de vergonhas
vomito hálitos de ternuras
plasmo o néctar do sexo
fundo-me lá dentro de fora a fora
e num ustório lipso
lápso-me, uno-me e gozo-me.

GENTES NOITÍFERAS

À noite, nos bares
zumbis pretos e brancos
secam suas vidas
em cada gole multicolor.
Gados embriagados frevem.
Frívolas gentes noitíferas cantam
melodias desconexas
desconectando-se
de si mesmas.
Abraçam o vazio
beijam fetídicos ares.
Em turbulências mórbidas
incham e secam
São rebocados ao ostracismo
dão adeus à vida.

ESCARROS DE PEDRA

Em gripes poéticas
há febrentinas palavras
cuspindo frases
espirrando versos
escarrando as pedras.
Nos delírios translúcidos
navegamos em naves orbitais.
com dores termométricas
vamos ao mais longe da sanidade.
A cura, ainda que cedo, tarda
a pedra, ainda que doentia, poeta.

ASCRIMÍNIO VERBORRÁSTICO

Nas conversas ao pé do ouvido
sons vibram em birgonáricos
os timparinos tremem
Telúricos acordes em colores, dançam
cílios desconexos, atordoamse.
As pernas, num trançado saltitante
correm loucas labirintíticas
com frases cuspidas em escarros.
verborrásticos e híbridos
versos incadenciados, voam
disrítmico, a cor dão
sem métrica, se libertam.

BORBORÍGMA FLEBULAR

Nas curvas de cada esquina
estacionamse
alegres lamúrias
ventilosas emoções singradas.
Em borborígma flebular, eructam-se
manifestam-se
em flatulências
embriagam-se
com monóxido carbonário
Frenam nas tortas linhas cerebrais
engolem emoções empoeiradas
tossem com força etanoica.
As lágrimas de óleo diesel
denunciam à vida
a morte cotidiana
em cada um de nós.

GLEIDISTONE ANTUNES – Poemas do poetamigo e professor Gleidistone Antunes da Silva, editor do blog Professor Gleidistone Antunes. Veja mais aqui e aqui.